domingo, 8 de março de 2009

Travessias

Willian Turner, The Fighting Temeraire Tugged to Her Last Berth to Be Broken up. 1838. Oil on canvas. The National Gallery, London


A Nau

A Heitor Lima


Sôfrega, alçando o hirto esporão guerreiro,
Zarpa. A íngreme cordoalha úmida fica. ...
Lambe-lhe a quilha a espúmea onda impudica
E ébrios tritões, babando, haurem-lhe o cheiro

Na glauca artéria equórea ou no estaleiro
Ergue a alta mastreação, que o éter indica,
E estende os braços de madeira rica
Para as populações do mundo inteiro!

Aguarda-a ampla reentrância de angra horrenda
Pára e, a amarra agarrada à âncora, sonha!
Mágoas, se as tem, subjugue-as ou disfarce-as...

E não haver uma alma que lhe entenda
A angústia transoceânica medonha
No rangido de todas as enxárcias!


Augusto dos Anjos.




(Sem Titulo)



Dúbio falsete ressoa a flotilha,
Em francos confins rasgados,
Frenesi das conquistas.

Temos o estudo e os remos,
Rumos inquietos,
Contudo, erramos,
Não como guerreiros de Bizâncio,
Bravos roteiros navegamos,
Sem descanso, o mar nunca é manso.

Os homens do mar fizeram os mapas,
Eis a herança das caravelas.
Entre bonança e declínio,
Zarpamos ao infinito.

O poente se rebela,
As estrelas dão apenas o Norte.
Volto com o tempo do mar
Em meu corpo de sonho,
Mas a que porto me navego?
Ao porto, talvez, do corpo marítimo.

O que sei, não sei, mar infinito.
Decerto, buscarei o irrestrito:
O mar inquieto, o regresso.



Felipe Stefani e Andre Setti.

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