terça-feira, 14 de julho de 2009

Canção



I

ao serem refletidas as vibrações
vê-se facilmente a alternância
as quatro estações a errância
das visões sucessivas

eis as conjunções da vida
do corpo do mundo e enfim a fábula

as pirâmides contemplam
o corpo ébrio do poeta

por isso água e fogo se completam
montanha e lago atuam convergindo

o caminho a tudo enlaça prosseguido
na harmonia continua das luas que despertam
as liras que incitam o fogo em propensão

retorna a dança ao equilíbrio infinito

instrumento lapidar dos ciclos mutação na fonte do mito

“deitai em vós meu jugo” e a extrema unção
cavalga o dragão do céu infindo

e além

quem corrompe o pensamento percorre todo a extensão da escrita deste arado pouco afeito a dança mas divino surgem loucas florações do caminho

compare a extensão dos sete mares com tudo o que há no mundo compare o Reino do Meio com a imensidão marítima semelhante a um grão no grande silo a criação tem dez mil fontes e o homem é uma delas aquilo que passaram os cinco imperadores e os Três Reinos aquilo que lamenta o homem honorário aquilo em que trabalha o homem prestativo tudo nada mais é do que isso se algo não tem forma os números não expressam a dimensão nos tempos antigos Yao abdicou em favor de Shun e Shun reinou como imperador K’uai abdicou em favor de Chieh e Chieh foi destruído T’ang e Wu lutaram e se tornaram reis o Duque Po lutou e foi eliminado olhando para isto desse modo vemos que lutar ou ceder comportar-se como Yao ou como Chieh pode ser nobre e elevado mesquinho e restrito impossível entender o caminho é sem princípio nem fim mas as coisas tem vida e morte as idéias e os números são da mesma natureza e elevam-se a dez em tudo um rio imerso na contensão do pensamento elaborava essa metáfora do meu corpo no mundo tudo e pouco contido na expiração do afeto busca entreabrir o ato do silêncio água e fogo na alternância do sentido desse reino de símbolos minha vasta espiral adormecida pulsa nos remotos enlaces onde o tempo sonhado abrange o tempo conhecido e dentro das palavras imenso caldeirão estou multiplicado antes sou tocado na bela comunhão do sábio como uma aurora explodindo mil unidades de ecos até as dez mil cítaras do afeto “em uma volta completa esmaguei a grande vacuidade” esse sopro do mestre corre cada labareda nas montanhas do meu abismo e sonho dentro da errância da vida com meu nome no meio em restrito candelabro de imitações os dias se espelham com o abraço da ternura elementar lhes rasgando como um prisma e tornando o que ama mais exato e infinito

pois ele amou precisamente
como haviam previsto

o mar

o tempo

comunhão

nos ciclos

da expressão

da morte

fugas de estações revisitadas sempre

e o renascimento

a palavra sem palavra do enlace absoluto

estou disperso em minha cama
elaboro vasto mundo e corpo ama
a volúpia da fala e a fala a escrita
isso é tudo
o resto é sonho e o sonho imita
o silêncio profundo

II

da emanação

extremas florações convergem








Fotografia e poema de Felipe Stefani, Inverno 2009

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